Nas décadas de 60 e 70, jornalistas americanos começaram a desenvolver um novo estilo literário. Isso porque redigiam suas reportagens usando técnicas narrativas da literatura, ou seja, deixavam de lado o texto enxuto e objetivo que normalmente é exigido em um texto jornalístico e davam lugar a floreios e detalhes que enriqueciam ainda mais a notícia, explorando-a bastante. Foi assim que surgiu o gênero literário "Novo Jornalismo", também conhecido como "não-ficção". Nessa época, algumas revistas, como a The New Yorker e a Squire, já publicavam essas reportagens mais longas que, com a produção necessária, tornaram-se os chamados livros-reportagem. Trouxe aqui a indicação de alguns livros que li, tanto para a faculdade quanto por abordarem temas de meu interesse!
Foi por causa desse livro que decidi cursar faculdade de Jornalismo. Truman Capote é também escritor de ficção, mas antes disso, já era um jornalista consagrado. Nesse livro, ele, sozinho, fazendo um trabalho quase que melhor do que o da polícia, investigou o assassinato de uma família em uma fazenda no interior dos Estados Unidos. Durante o processo, ele viveu na vila em que o crime aconteceu, conviveu com os criminosos e conversou com os habitantes. Um fato curioso é que o autor não anotava nada, para não gerar suspeitas ou intimidar as fontes: ele usava a sua memória pra armazenar as informações e só transcrevia o que descobria quando estava sozinho em casa. Provavelmente, A Sangue Frio foi o maior incentivador do gênero: um sucesso na época de lançamento e uma grande referência ainda hoje.
Hunter S. Thompson acabou criando uma vertente dentro do Novo Jornalismo, o Jornalismo Gonzo. Para ele, não bastava cobrir as reportagens, ele queria viver exatamente aquilo sobre o que estava escrevendo com a maior intensidade possível. Por isso, regava suas experiências com muito álcool e drogas. Sua obra mais famosa, Medo e Delírio em Las Vegas, trata-se de uma corrida de motocicletas no deserto americano, inicialmente realizada para a revista Sports Illustrated e foi inicialmente publicada com o pseudônimo Raoul Duke, devido ao conteúdo pesado que abordava.
No Brasil, também temos jornalistas que se aventuram com livros-reportagem. Um dos mais renomados é o de Caco Barcellos, baseado em uma investigação detalhada sobre a rede que forma o "esquadrão da morte oficial", montado em São Paulo. Caco acompanhou a fundo a investigação do assassinato de jovens de classe média através de ações policiais. A partir deles, outros assassinatos sem explicação começaram a ser descobertos e tiveram sua autoria atribuídas oficialmente à polícia militar. A leitura desse livro nos mostra exatamente porque o jornalista é um dos mais prestigiados do nosso país.
Parte do trabalho de uma biografia é a apuração jornalística necessária pra se montar a obra. São necessárias entrevistas, pesquisas de dados, e claro, a captação de fontes seguras e confiáveis para colher informações. E foi isso que Janet Malcom fez. Escreveu não só sobre a vida literária da escritora Sylvia Plath, mas esclareceu buracos contidos em outras biografias e desconstrói mitos criados ao redor do relacionamento dela com o poeta Ted Hughes. Este, depois de A Sangue Frio, é um dos meus livros-reportagem favoritos, pois a autora mistura uma narrativa literária cheia de suspense com informações técnicas sobre o trabalho real de um biógrafo e de um jornalista. Ela aproveita para esclarecer o limite entre a ficção e a realidade; a linguagem utilizada no livro é neutra ao expôr os fatos colhidos e deixa que o leitor tome partido ao escolher no que quer acreditar.
O jornalista Dave Cullen foi responsável por um dos muitos livros que tentam compreender e examinar o Massacre de Columbine, que ocorreu em abril de 1999. Dois alunos, Eric Harris e Dylan Klebold planejaram um ataque à sua escola que terminou com 13 mortos e 21 feridos. Os atiradores cometeram suicídio em seguida. Há muitas controvérsias sobre o caso, visto que a investigação não foi totalmente aberta ao público. De acordo com os estudiosos do caso, a obra de Dave é apenas parcialmente crível. O que mais é criticado no que diz respeito a esse livro é a credibilidade das fontes que o autor usou. O exemplo mais comentado é de uma menina que se dizia namorada de um dos atiradores - deu detalhes aprofundados sobre a personalidade e a convivência com ele a Cullen. Pouco tempo mais tarde, foi desmascarada pela polícia e ficou provado que ela nunca havia ao menos conhecido alguém envolvido no crime.