Já sei, já sei. Você seguiu minha dica de semana passada (essa aqui), assistiu Chicago, e agora odeia mais ainda musicais.
Não se preocupe, é uma reação completamente normal. Todo este gênero cinematográfico é composto por oito ou oitenta. Ou você ama, ou você odeia. E é por isso que os cineastas que decidem por sua reputação em risco ao se dedicar a um musical procuram fazer algo completamente diferente dos já feitos. Estilos como suspense, drama, romance. E é justamente por esse motivo que escolhi trazer para hoje o lado reverso da moeda de Chicago: O Moulin Rouge!
Se o grande mérito de Chicago em relação a reconhecimento foram suas seis estatuetas de Oscar, o mérito de Moulin Rouge! foi ter aberto as portas para que isso fosse possível. A industria de musicais, que a muitos anos era a principal do cinema com os clássicos Dançando na Chuva e Noviça Rebelde, vinha em um declínio pavoroso. Chacotada pela mídia e repudiada pelo público. Lançar um filme musical era diretamente sinônimo de perca de dinheiro e uma tremenda mancha negra no currículo. Mas, em 2001, eis que "Moulin Rouge! - Amor em vermelho" estreia nas telas de cinema e faz um sucesso assustador! Os musicais estavam de volta, baby, e a história do autor Christian e a cortesã Satine faria plateias do mundo todo chorar por anos e anos seguidos.
A história de Moulin Rouge! se passa na Paris de 1899, quando o jovem escritor Christian (Ewan McGregor - Anjos e Demônios) se muda para a cidade buscando inspiração para seus escritos. Em Paris, Christian descobre muita afinidade com o estilo de vida boêmico - Bebida, música, e muito amor- e é em busca destes três elementos principais que ele encontra o Moulin Rouge - Um clube/boate/bordel de muita elegância. Neste bordel, a menina dos olhos é a cortesã Satine (Nicole Kidman - Austrália), a mais bela e talentosa do Moulin Rouge. Satine vive sob a tutela quase paterna do proprietário do clube, Zidler (Jim Broadbent - Harry Potter e o Enigma do Príncipe), que fará de tudo para que a garota não caia nas garras do amor e seja desviado do seu caminho de fama, sucesso e glamour.
A primeira coisa que se deve saber sobre Moulin Rouge é que o filme se trata de um clássico romance água-com-açúcar, do tipo feito para namoradas obrigarem namorados a assistirem no sábado a noite, agarrados no sofá. Mas isso não tira seu mérito de ser um ótimo entretenimento!
Moulin Rouge é ousado! A direção de Baz Luhrmann transforma as músicas em poesia para os ouvidos e as imagens em poesia para os olhos. Exótico, e composto por cores fortes e efeitos especiais pouco tradicionais, que lhe dá a impressão de não estar assistindo a um filme e sim a um sonho - onde tudo é possível e as leis da física não se aplicam.
Mas a mesma direção e ritmo que tornam o filme único, também o torna cansativo. Se você se aventurar em assistir Moulin Rouge (E eu recomendo que o faça), estará assumindo o risco de uma leve dor de cabeça e músicas chicletes grudadas em sua mente. As cores fortes são de um tom quase psicodélico, e acabam dando a impressão de que o filme é mais longo do que realmente é - Um tipo de prova de resistência.
Nicole Kidman dá vida à Satine, a cortesã. Apaixonante, ela cativa o telespectador e o seduz. Satine é esperta e ambiciosa, e vê no Moulin Rouge uma chance de se tornar uma série atriz de sucesso. A interpretação da personagem está impecável, e é impossível para o telespectador não ama-la. Ela emociona, transmite sinceridade e paixão. Entrou para o mundo dos musicais como uma personagem memorável, além de linda e sexy.
Já Christian, vivido por Ewan McGregor, é poético. Enxerga no amor a única razão para se viver (E alguém é capaz de descordar?). Christian é inocente e não vê qualquer mal em se apaixonar por uma cortesã ambiciosa. É um autor talentoso, que acaba cada vez mais afundado na vida boêmia que aprende a amar. Ewan convence, passando para o telespectador toda a inocência sonhadora que o personagem quer. Um típico príncipe perfeito, que fará as mulheres suspirarem (Apesar da ausência de toda e qualquer aparência de galã tradicional).
O grande diferencial de Moulin Rouge em relação aos outros musicais é a trilha sonora. Não sendo adaptado de nenhum musical teatral anterior, Moulin Rouge tem pouquíssimas composições originais e encaixa em sua história músicas já conhecidas do grande público, como "Diamonds Are A Best Gril's Friend", "I Will Always Love You" e "Like a Virgin". É uma boa sensação assistir a um musical e, repentinamente, os atores começarem a cantar uma música que você já conhece e é notável a afeição que isto cria ao telespectador. As músicas são tão bem encaixadas e montadas que dificilmente se teria um resultado melhor com composições próprias para o filme.
Moulin Rouge emociona, encanta, e cativa até o público mais resistente ao gênero musical. Vale a pena por sua direção ousada e fotografia exótica. Suas músicas conhecidas e atuações dedicadas. É com muito mérito que é considerado por muitos o melhor musical dos últimos tempos, e deve continuar assim! Christian e Satine são, sem dúvida, um dos casais mais apaixonados do cinema e sua história vale a pena ser vista, revista e comentada.